Biomédica, Neurocientista (mestra e doutora), Professora @Unisinos e #SciComm em @redeanalise. Ela/Dela | #DefendaoSUS
Muitos se assustaram, mas é importante reforçar que a coleta ocorre com condições controladas.
É diferente do que acontece num contexto de aquecimento global, que traz um maior risco de disseminação de patógenos com o degelo de regiões congeladas 🧶👇
Segundo a reportagem, pesquisadores recolheram amostras do permafrost, uma região que, como o nome diz, está 'permanentemente congelada', na Sibéria. Essas amostras datam até 48 mil anos, e contem microorganismos em seu interior, de um tempo antes do congelamento
O principal objetivo dessa ação é entender os impactos do degelo desse permafrost, como consequência do aquecimento global (GIF abaixo).
O que ocorreria com esses microorganismos adormecidos? Eles trariam algum risco para a nossa saúde?
Alguns dos vírus residentes dessas amostras são vírus de DNA que mantiveram capacidade de infectar (mesmo após mais de 48 mil anos) uma Acanthamoeba, um tipo de ameba usada no estudo que agrega muita segurança para esse tipo de trabalho. Te explico o porquê
A Acanthamoeba tem "bilhões de anos de distância evolutiva com humanos e outros mamíferos", o que reduz o risco biológico para insignificante de uma infecção acidental, segundo os autores do preprint. As condições são controladas no estudo.
https://www.biorxiv.org/content/10.1101/2022.11.10.515937v1.full
Mas o estudo traz uma preocupação grande: com o degelo do permafrost (que pode abrigar micróbios de mais de 50 mil anos atrás), liberando esses micróbios, quanto tempo esses vírus podem permanecer infecciosos? Qual a chance de eles encontrarem e infectarem um hospedeiro adequado?
Quanto de micróbios poderiam ser liberados no ambiente com o degelo do permafrost?
Pensando em mudanças climáticas moderadas,~0,65 milhão de toneladas/ano de matéria orgânica (que inclui micróbios) seriam liberadas nos próximos 80 anos, no Hem. Norte.
https://www.nature.com/articles/s43247-022-00609-0
Segundo o autor do trabalho "O número de micróbios liberados depende muito da rapidez com que as geleiras derretem e, portanto, de quanto continuamos a aquecer o planeta. Mas a massa de micróbios liberada é vasta mesmo com aquecimento moderado"
Enquanto esses micróbios antigos estão presos no gelo, representam pouco perigo para nós. Mas a medida que essas regiões congeladas derretem, fruto do aquecimento global, o perigo aparece – e cresce – em acha hospedeiros que facilite seu espalhamento para outras espécies.
E cada vez mais, estudos* se somam no aviso de que "a crise climática e o degelo das geleiras estão aumentando o risco de propagação de novos vírus – e podem até mesmo iniciar a próxima pandemia" segundo a reportagem do @IFLScience
*
https://royalsocietypublishing.org/doi/10.1098/rspb.2022.1073
Se vocês lembrarem, na Rùssia, com ondas de calor muito altas (devido às mudanças climáticas), regiões congeladas começaram a descongelar, liberando esporos de Antraz, que podem sobreviver em carcaças congeladas por muito tempo:
https://www.theguardian.com/world/2016/aug/01/anthrax-outbreak-climate-change-arctic-circle-russia
Esse surto de Antraz levou ao óbito mais de 2.300 renas e "pelo menos 63 pessoas foram evacuadas de uma área de quarentena ao redor do local do surto". Ainda, um menino de 12 anos morreu e "72 pastores nômades, incluindo 41 crianças, foram hospitalizados" (link acima)
Aqui estamos falando de riscos de surtos de agentes infecciosos que conhecemos, mas podem ter agentes infecciosos no permafrost que sequer a ciência conhece, congelados de tempos muito remotos ao nosso entendimento.
O aquecimento global é um risco para nossa saúde também
O assunto é super sério e precisamos sair da esfera de alertas para ações concretas. Recomendo muito seguir especialistas que tem conhecimento anos luz a frente do meu e que são pessoas extraordinárias no que fazem: @drilippi @punkbiology @pilgrimcetus_ @KariLimaX @ABeatriz_RO
Originally tweeted by Mellanie Fontes-Dutra (Mell) 🌻 (@mellziland) on 25 de November de 2022.