Texto produzido por Bruna Frizzo Rabelo (@bruh_rabelo)* para @analise_covid19
Pacientes com COVID-19 geralmente apresentam febre e doenças respiratórias. No entanto, pouco se sabe sobre as manifestações neurológicas dessa doença. Hoje vamos falar do primeiro caso de COVID-19 inicialmente apresentando síndrome de Guillain-Barré aguda.
Mas o que síndrome de Guillain-Barré? É um distúrbio autoimune, ou seja, o sistema imune do próprio corpo ataca parte do sistema nervoso, que são os nervos que conectam o cérebro com outras partes do corpo. Essa síndrome é marcada pela perda da bainha de mielina (que atua como um isolante elétrico nos nossos neurônios aumentando a velocidade das nossas sinapses) e manifesta fraqueza muscular, com redução ou ausência de reflexos. Várias infecções têm sido associadas à Síndrome de Guillain Barré, entre elas Zika e dengue (Ministério da Saúde).
No presente estudo de caso (Zhao et al., 2020), até então único, dois médicos chineses relatam a história de uma mulher de 61 anos foi admitida em um hospital em Shanghai no dia 23 de janeiro de 2020, após ter retornado de Wuhan. Ela apresentava fraqueza nas pernas e fadiga severa e negava ter febre, tosse, dor no peito ou diarréia. No exame de sangue apresentou nível baixo de linfócitos (glóbulos brancos) e plaquetas. Seguido de uma série de exames neurológicos, ela então foi diagnosticada com Síndrome de Guillain-Barré. No oitavo dia de internação a paciente desenvolveu tosse seca e febre de 38,2 °C. A tomografia do tórax mostrou a característica de vidro fosco nos dois pulmões. Foram feitas coletas de swabs de orofaringe que testaram positivos para SARS-CoV-2 no ensaio de RT-PCR.
Retrospectivamente, as alterações laboratoriais iniciais da paciente (baixa de glóbulos brancos e de plaquetas), são consistentes com as características clínicas de pacientes com COVID-19, indicariam a presença de infecção por SARS-CoV-2 já na admissão. A apresentação precoce da COVID-19 pode ser inespecífica (febre em apenas 43,8% dos pacientes na admissão). Considerando a associação temporal, os autores especulam que a infecção por SARS-CoV-2 pode ter sido responsável pelo desenvolvimento de Guillain-Barré síndrome nesta paciente.
No entanto, a limitação deste caso é a ausência de testes microbiológicos na admissão. Além disso, a febre e os sintomas respiratórios do paciente evoluíram 7 dias após o início dos sintomas da síndrome de Guillain-Barré. Portanto, é prudente considerar a explicação alternativa de que a paciente desenvolveu coincidentemente a síndrome de Guillain-Barré de causa desconhecida e adquiriu infecção por SARS-CoV-2 durante sua estadia no hospital; no entanto, não houve relato de COVID-19 na enfermaria neurológica durante sua permanência nem em seus contatos próximos.
Para finalizar, lembramos que esse é o estudo de um único caso, mas que aponta para coisas que ainda não sabíamos e sugere uma possível associação entre a síndrome de Guillain-Barré e a infecção por SARS-CoV-2. Mais casos com dados epidemiológicos são necessários para apoiar uma relação causal. Este caso também sugere a necessidade de considerar possíveis sintomas neurológicos da infecção por SARS-CoV-2.
Texto produzido por Bruna Frizzo Rabelo (@bruh_rabelo)* para @analise_covid19
*Bacharela em Biomedicina (com ênfase em análises clínicas), Mestranda em Neurociências – UFRGS
Fontes:
Saúde, M. da. (n.d.). Síndrome de Guillain-Barré. https://saude.gov.br/saude-de-a-z/guillain-barre
Zhao, H., Shen, D., Zhou, H., Liu, J., & Chen, S. (2020). Guillain-Barré syndrome associated with SARS-CoV-2 infection: causality or coincidence? The Lancet Global Health, 4422(20), 2–3. https://doi.org/10.1016/S1474-4422(20)30109-5