Autores: Eduardo Cristiano Hass da Silva1 Lucas Costa Grimaldi2
O presente texto faz parte da coletânea “Sete Males”: Histórias das Doenças, Epidemias e Pandemias no Brasil, organizada por Eduardo Cristiano Hass da Silva, vinculada à Rede Análise COVID – 19.
1Doutorando em Educação na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), com bolsa CNPq. Mestre, bacharel e licenciado em História na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). É membro pesquisador do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul (IHGRGS – 2019).
2Doutorando em Educação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mestre em Educação na mesma instituição e, Bacharel em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)
A COVID-19 tem provocado a reestruturação de diferentes ambientes sociais, levando a novas formas de nos relacionarmos. A possibilidade de crianças e adolescentes contraírem o vírus de forma assintomática, servindo como agentes transmissores para seus familiares, provocaram a paralisação das escolas e/ou a adequação das aulas a modelos à distância. No entanto, esta não é a primeira vez em que crianças se tornam focos de transmissão de doenças no Brasil, sendo que, já foram as vítimas em momentos de epidemias.
Ao longo da história da educação brasileira, percebemos uma profusão de discursos médicos que alertam sobre a importância de cuidar a saúde das crianças para impedir a proliferação das doenças, principalmente no ambiente escolar. A criação de gabinetes médicos e odontológicos nas escolas, a criação de campanhas de vacinação e higiene escolar, a adoção de merendas na escola para combater a desnutrição e o distanciamento de alunos que manifestam algum sintoma são alguns elementos, em perspectiva histórica, que demonstram profilaxias em relação a possíveis doenças que teriam na escola. Sendo assim, este texto abordará 3 doenças que tinham nas crianças o principal alvo ou foco de contágio: sarampo, poliomielite e meningite.
Embora tenha-se tornado uma doença de notificação compulsória no Brasil no ano de 1968, o sarampo foi, por muitos anos, uma das principais causas de morbidade e morte de crianças na infância. A doença atingia principalmente menores de um ano de idade, comportando-se de forma endêmica, ocorrendo epidemias a cada 2 ou 3 anos. As primeiras vacinas contra o sarampo foram introduzidas no país na década de 1960, a partir da importação do imunobiológico no mercado internacional, de forma descontínua. Em 1974 foram realizadas campanhas urbanas em vários estados (DOMINGUES et. al., 1997).
A poliomielite é uma doença contagiosa, que pode infectar crianças e adultos, causando paralisias musculares nos membros inferiores dos atingidos. De acordo com André Luiz Vieira de Campos, Dilene Raimundo do Nascimento e Eduardo Maranhão (2003), no Brasil, os primeiros surtos datam de 1911, no Rio de Janeiro e, de 1917, em São Paulo. No entanto, foi em 1953, no Rio de Janeiro, que se encontrou a maior epidemia até então registrada no país. A partir da imprensa, é possível observar, inicialmente, uma tentativa de negação da doença, seguida pela ansiedade da população perante o desafio que se instalava. Em meio a epidemia, foram utilizados medicamentos que não contribuíram em nada para debelar o surto da doença, mas que serviam como um ritual científico para tranquilizar a população. Além dos medicamentos ineficientes, outra estratégia adotada foi a culpabilização de estrangeiros por disseminarem a doença.
Além do sarampo e da poliomielite, temos a meningite como outra doença que afeta principalmente crianças e que, pode ter na escola um meio privilegiado de propagação. A meningite é uma doença que causa inflamação nas membranas que recobrem o cérebro e possui vários tipos, conforme o agente infeccioso: fungos, vírus ou bactérias. Schneider, Tavares e Musse (2015) indicam que nos anos de 1971 e 1974 houve vários surtos de meningite no Brasil, que acabaram abafados pela censura da Ditadura Civil-Militar. As autoras também indicam que outros tipos da doença já circulavam, no Brasil desde a primeira metade do século XX. “Nos anos 1950 e 1960, passados os anos da Segunda Guerra, a meningite epidêmica passou à sua forma endêmica, tanto no Brasil como na maioria dos países da Europa e das Américas” (SCHNEIDER, TAVARES e MUSE, 2015, p. 5). A partir de 1975, houve uma grande campanha de vacinação que visava combater estas epidemias.
Nesse texto, procuramos abordar de que forma o Sarampo, Poliomielite e a Meningite foram tratados, historicamente, no Brasil. Atualmente, as duas doenças tratadas neste texto, Sarampo e Meningite, são consideradas endemias pelo Ministério da Saúde, isto é, seus casos podem aparecer ao longo de todo o ano. A Poliomielite em função de extensas campanhas de saúde foi erradicada. Nesse sentido, a vacinação se torna uma política pública importante para proteção das crianças.
Referências
CAMPOS, André Luiz Vieira de; NASCIMENTO, Dilene Raimundo do; MARANHÃO, Eduardo. A história da poliomielite no Brasil e seu controle por imunização. História, Ciências, Saúde. Manguinhos, v. 10: 573-600, 2003.
DOMINGUES, Carla Magda Allan S. et al . A evolução do sarampo no Brasil e a situação atual. Inf. Epidemiol. Sus, Brasília , v. 6, n. 1, p. 7-19, mar. 1997 . Disponível em <http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-16731997000100002&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 16 maio 2020.
SCHNEIDER, Catarina; TAVARES, Michele; MUSSE, Christina. O retrato da epidemia de meningite em 1971 e 1974 nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo. RECIIS – Rev Eletron de Comun Inf Inov Saúde. 2015 out.-dez.; v.9 n.4 | [www.reciis.icict.fiocruz.br] e-ISSN 1981-6278.