Autor: Miguel Buelta (@MiguelBuelta)
Colaboração e revisão: Isaac Schrarstzhaupt (@schrarstzhaupt)
Marcelo A. S. Bragatte (@marcelobragatte
O objetivo deste trabalho é o de estimar qual poderia ser o número real de óbitos por COVID-19 ocorridos nos estados brasileiros e, por consequência, em todo o país. Nesta análise, todos os números de óbitos, pelas diferentes causas, são aqueles fornecidos pelos respectivos sistemas de notificação, a saber:
– N_COVID = óbitos totais notificados por COVID-19. Obtidos no painel do Ministério da saúde, que agrega os dados notificados pelos municípios e estados.
– N_SRAG2020 = óbitos totais notificados por SRAG em 2020. Obtidos no openDATASUS do Ministério da Saúde(1).
– N_SRAG2019 = óbitos totais notificados por SRAG em 2019. Obtidos da mesma fonte openDATASUS.
– N_COVID SRAG2020 = óbitos totais notificados por SRAG em 2020, identificados como sendo causada por COVID-19. Obtidos da mesma fonte openDATASUS.
– N_PNEU2020 = óbitos totais notificados por pneumonia em 2020. Obtidos no Portal da Transparência , na aba Causas Respiratórias.
– N_PNEU2019 = óbitos totais notificados por pneumonia em 2019. Obtidos no mesmo Portal da Transparência.
O levantamento de óbitos totais foi realizado até 01/11 de cada ano (2019 e 2020). Todos esses óbitos correspondem somente aos óbitos de residentes do respectivo Estado analisado. Esse número é obtido com a aplicação do filtro respectivo nos sistemas de dados utilizados.
A análise a ser realizada é uma extensão da metodologia apresentada em trabalho anterior, Buelta M.A.M (2020), onde mostrou-se o grande aumento de óbitos por SRAG em 2020, em relação aos anos anteriores, no qual somente uma parcela é identificada como sendo causada por COVID-19. A parcela restante é ainda bem maior do que o número de óbitos por SRAG dos anos anteriores. Isso levou à adoção de um procedimento numérico para tentar avaliar o número de óbitos que podem ter deixado de ser notificados como sendo também por COVID-19.
No trabalho citado, define-se(1):
N_SRAG = óbitos totais a mais que poderiam ser também por COVID-19, dado pela expressão:
N_SRAG = N_SRAG2020 – N_SRAG2019 – N_COVID SRAG2020
(1) Notar que também foram retirados do N_SRAG os óbitos por SRAG de 2019 (N_SRAG2019 ), e que podem ter ocorrido devido a outras causas.
N_COVID “real” = soma dos óbitos totais notificados por COVID-19 (N_COVID ) e dos óbitos N_SRAG, que pode ser o número total de óbitos por COVID-19, dado pela expressão:
N_COVID “real” = N_SRAG + N_COVID
(2) Nesta extensão da análise anterior são considerados também os óbitos notificados por pneumonia, da seguinte forma:
– Em 2020 foram notificados até o momento, como norma, menos óbitos totais por pneumonia (N_PNEU2020) do que que aqueles de 2019 (N_PNEU2019). Isto pode estar ocorrendo por duas razões principais: a primeira é o próprio isolamento social, que deve ter levado a menos casos. A segunda é a tendência de que, nesta situação de pandemia, possa ter sido atribuída como SRAG a causa de um óbito que possa ter ocorrido por pneumonia. Esta segunda razão pode levar a um excesso de diagnósticos de SRAG em 2020 (N_SRAG2020). Portanto, na expressão (1) para cálculo de N_SRAG, resolveu-se retirar também uma parcela da diferença dos óbitos por pneumonia de 2019 e 2020, ficando:
N_SRAG = N_SRAG2020 – N_SRAG2019 – N_COVID SRAG2020 – K% . (N_PNEU2019 – N_PNEU2020)
(3) Onde K% é uma porcentagem arbitrária da diferença dos óbitos por pneumonia de 2019 e 2020.
Pode-se então calcular o fator de multiplicação dos óbitos oficiais notificados por COVID-19 (N_COVID), para obter-se o que pode ser o número real de óbitos por COVID-19 (N_COVID “real”). Onde N_COVID “real” é obtido pela expressão (2) para as hipóteses que se queiram usar na expressão (3) de cálculo de diferentes N_SRAG. Portanto:
Fator = (N_COVID “real”/ N_COVID ) (4)
Nas tabelas a seguir são apresentados os números coletados nos sistemas de notificação e os resultados definidos nos capítulos 1 e 2, para o Brasil e seus Estados, até 01/11/2020.
tabelas de SRAG de 2020 e 2019, devidamente filtradas, facilitando em muito esta análise.
Tabela 1: Número total de óbitos coletados nos sistemas de notificação, até 01/11/2020.
Observação:
Tabela 2: Resultados dos fatores de multiplicação dos óbitos acumulados totais notificados por COVID-19 (N_COVID ), para se obter o que pode ser o número total de óbitos por COVID-19 até 01/01/2020 (N_COVID “real” ), para cada porcentagem K% da diferença dos óbitos por pneumonia de 2019 e 2020 como na expressão (4), capítulo 2.
Observações:
Conclusão
Portanto, segundo as hipóteses desta análise, o fator de multiplicação dos óbitos oficiais notificados por COVID-19, para obter-se o que pode ser o número total de óbitos por COVID-19 (N_COVID “real”/ N_COVID ), varia de estado para estado e varia para cada porcentagem K% da diferença dos óbitos por pneumonia de 2019 e 2020, que procura, nesta situação de pandemia, minimizar a tendência de atribuir como SRAG a causa de um óbito que possa ter ocorrido por pneumonia. Esses fatores podem ser vistos na tabela 2, para cada estado e situação.
Considerando que nenhuma parte dos óbitos atribuídos ao SRAG, possa ter sido por pneumonia, existiria uma subnotificação de óbitos por COVID-19 variável ao longo do país, que corresponde a acrescer de 70% (Minas Gerais) a 0% (Acre) os óbitos notificados, passando por acrescer em 50% para o Brasil como um todo.
Considerando o outro extremo, onde toda a diferença positiva dos óbitos por pneumonia de 2019 e 2020 tenha sido atribuída em 2020 ao SRAG e, na verdade, ocorreu por pneumonia, mesmo assim existiria uma subnotificação de óbitos por COVID-19 variável ao longo do país, que corresponde a acrescer de 40% (Minas Gerais) a 0% os óbitos notificados em alguns estados, passando por acrescer em 20% para o Brasil como um todo.
Os valores reais podem estar entre os dois extremos acima, e poderão ser até maiores do que aqueles aqui estimados, pois consideram-se somente os óbitos por COVID-19 que circularam pelo sistema de saúde e que foram identificados, seja por SRAG, seja por COVID-19.