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O que sabemos sobre os assintomáticos para a COVID-19

07.12.2020

Por: Mell

Autora: Larissa Brussa Reis (@laribrussa) 

Revisores: Mateus Falco (@mateuslfalco) e Mellanie Fontes-Dutra (@mellziland)

Chegamos no mês de dezembro de 2020 com sensações nunca experimentadas. Uma doença com proporções desconhecidas se espalhou em diferentes partes do mundo quase ao mesmo tempo, transformando a realidade de todos nós. Hoje, apenas 10 países em todo o planeta estão sem registro de casos de COVID-19, pois possuem em comum as fortes políticas de isolamento, além dos locais geográficos mais afastados e que estão sofrendo com as restrições em seu principal meio de subsistência: o turismo. Mais de 187 países e 200 territórios, incluindo 26 navios de cruzeiros, já tiveram registro de casos da nova doença. 

As pessoas passaram a se infectar umas às outras em ritmo acelerado, gerando uma transmissão sustentada do vírus, que se acentuou nos últimos meses. Um dos principais fatores que contribuem para esse aumento são as pessoas contaminadas que não apresentam sintomas (os chamados assintomáticos), que levam a vida sem restrições de distanciamento, ou as pessoas que apresentam sintomas leves e inespecíficos (os chamados pré-sintomáticos) que não seguem as recomendações internacionais de isolamento social. Aliado a isso temos a facilidade de deslocamento que existe hoje entre os diferentes locais, gerando a receita perfeita dos super espalhadores do novo coronavírus, no caso os assintomáticos e os pré-sintomáticos.

Já temos provas fortes que pessoas sem sintomas podem transmitir o vírus, mas estimar sua contribuição para os surtos da doença ainda é um desafio. Os últimos estudos apontam que cerca de uma em cada cinco pessoas infectadas não sentirá sintomas e transmitirá o vírus, e essa transmissão será a um número significativamente menor de pessoas do que a transmissão de alguém que apresenta os  sintomas, como tosse seca, perda de paladar  ou de olfato. Contudo, essas pessoas são capazes de espalhar o vírus para as pessoas que entrarem em contato.

Existe um complicador para estabelecer um número confiável sobre a taxa de transmissão da COVID-19 pelos assintomáticos, que é distinguir as pessoas que são assintomáticas e as que são pré-sintomáticas. No início da pandemia, a taxa de infecções assintomáticas foi estimada em 81%, ou seja, 8 em cada 10 casos infectados pelo vírus. Mas, um estudo com o mais alto poder de comprovação científica publicado em outubro, combinou 13 estudos envolvendo 21.708 pessoas e o resultado calculado foi a taxa de apresentação assintomática da doença em 17%. A análise definiu pessoas assintomáticas como aquelas que não apresentaram nenhum dos principais sintomas do COVID-19 durante todo o período de acompanhamento (pelo menos sete dias). Os assintomáticos têm uma probabilidade menor de transmitir o vírus do que pessoas sintomáticas, mas a chance não deixa de existir. Além disso, a frequência com que as pessoas sem sintomas transmitem o vírus é difícil de ser estimada com exatidão porque essas infecções quase nunca são detectadas. Isso ocorre porque os testes na maioria dos países são direcionados às pessoas doentes que apresentam sintomas.

Embora exista um risco menor de transmissão de pessoas assintomáticas, elas ainda podem representar um risco significativo para a saúde pública porque têm mais probabilidade de estar na comunidade, passear em shoppings, bares, restaurantes, ao invés de estarem isoladas em casa, possivelmente contribuindo para o aumento dos eventos de transmissão do vírus para a população. A ausência de uma testagem eficiente, não só para pessoas doentes que procuram centros de saúde, mas também abrangendo essa testagem para o máximo de pessoas possíveis, sintomáticas ou não, é decisivo para podermos começar a rastrear melhor esses novos casos.

Um estudo com o maior poder de comprovação reuniu outros estudos sobre carga viral (quantidade de um vírus em um paciente infectado) e demonstrou que os assintomáticos tinham cargas virais iniciais semelhantes quando comparados com pessoas que apresentam  os sintomas. Mas, as pessoas assintomáticas parecem eliminar o vírus mais rápido e são infecciosas por um período mais curto de tempo, porém ainda são transmissores do vírus, e na pior das hipótese sem saber que são portadores. Outra questão é que o sistema imunológico de assintomáticos pode ser capaz de neutralizar o vírus mais rapidamente, mas isso não significa que essas pessoas tenham uma resposta imunológica mais forte ou mais durável. Inclusive, já temos comprovações de que pessoas com COVID-19 grave têm uma resposta de anticorpos neutralizantes mais substancial e duradoura em infecções posteriores. 

Quando um vírus se espalha por várias regiões, como é o caso do novo coronavírus, fica difícil prever com exatidão o final da história. A doença pode atingir uma região pobre, com escassez de recursos de higiene e isolamento, por exemplo, causando surtos e prejuízos enormes, além da possibilidade de uma grande devastação, pois faltam recursos para conter os avanços da doença e cuidados dos doentes.

Além disso, o grande aumento no número de infectados pela COVID-19 aumenta a procura por atendimento médico e principalmente por leitos especializados, que possuam estrutura adequada para atender pacientes com necessidade de tratamento intensivo, UTIs e ventilação mecânica. Se esses leitos não estão disponíveis, podemos enfrentar um colapso no sistema de saúde, como foi visto na Itália, logo no início da pandemia. Nessa situação, o número de leitos em UTI foram rapidamente ocupados e a falta de equipamentos de proteção individual, como máscaras e luvas, para as equipes de saúde pioraram ainda mais a situação e acabou levando aos números de mortes assustadores que acompanhamos pelos noticiários.

Portanto, é recomendado que todos nós, que não temos certeza se somos portadores do vírus, pois podemos ser assintomáticos, também devemos evitar o risco de contaminação, e continuar a usar as medidas que reduzem o espalhamento do vírus, como distanciamento social, higiene das mãos e uso de máscara.

Referências:

https://brasilescola.uol.com.br/doencas/pandemia.htm

https://www.arcgis.com/apps/opsdashboard/index.html#/bda7594740fd40299423467b48e9ecf6

https://www.thelancet.com/journals/lanmic/article/PIIS2666-5247(20)30172-5/fulltext

https://jammi.utpjournals.press/doi/10.3138/jammi-2020-0030

https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.11.04.20225573v1

https://doi.org/10.2139/ssrn.3677918

http://coronavirus.saude.mg.gov.br/blog/61-o-que-e-uma-uti#:~:text=A%20Ag%C3%AAncia%20Nacional%20de%20Vigil%C3%A2ncia,graves%20dentro%20de%20um%20hospital.

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