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Genoma Sars-CoV-2

14.04.2020

Por: Mell

Fonte da imagem: https://www.pnas.org/content/early/2020/04/07/2004999117/tab-figures-data

Pesquisadores de Cambridge, Reino Unido e da Universidade de Kiel, Alemanha reconstruíram os três principais percursos traçados pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2) em humanos usando técnicas de redes genéticas. Com isso, é possível verificar como a infecção se espalhou pelo mundo a partir de Wuhan, cidade chinesa que registrou os primeiros casos da doença, em dezembro de 2019 infectando mais de dois  milhões de pessoas.

Os pesquisadores analisaram os primeiros 160 genomas completos dos humanos infectados pelo  vírus – amostrados entre 24 de dezembro de 2019 e 4 de março de 2020. Analisando suas mutações, foi possível mapear parte da disseminação original do novo coronavírus usando um algoritmo matemático que criou o caminho evolutivo da Covid-19.

É uma das primeiras vezes que essas técnica, conhecida por ser utilizada para mapear os movimentos das populações humanas pré-históricas através do DNA, foi utilizada para rastrear as rotas de infecção de um coronavírus como o Sars-CoV-2. 

A pesquisa, publicada no periódico científico PNAS₁, revelou três “variantes” distintas do Sars-CoV-2, cada uma sendo parte de uma linhagem que os pesquisadores rotularam como “A”, “B” e “C”.

O tipo “A”, mais intimamente relacionado ao vírus descoberto em morcegos e pangolins, é descrito como “genoma ancestral” pelos pesquisadores, estava presente em Wuhan, mas não era o tipo de vírus predominante na cidade. As versões mutantes de “A” foram encontradas predominantemente nos Estados Unidos e na Austrália. Entre os americanos há um histórico de que estiveram na fonte presumida da epidemia em Wuhan.

O principal tipo de vírus de Wuhan, “B”, é derivado do “A” e foi prevalente em pacientes de todo o leste da Ásia. No entanto, a variante ficou mais retida na região por ter se adaptado ambientalmente a uma grande parte da população do leste asiático e seriam necessárias mutações para que vencesse a resistência e viajasse para outras regiões, afirmam os pesquisadores.

A variante “C”, é oriunda de “B”, é o principal tipo europeu, encontrado em pacientes da França, Itália, Suécia, Inglaterra, Califórnia e no Brasil. Ele está ausente na amostra chinesa continental  do estudo, mas foi encontrado em Cingapura, Hong Kong e Coréia do Sul.

A análise também sugere que uma das primeiras introduções do vírus na Itália ocorreu por meio da primeira infecção alemã documentada em 27 de janeiro, e que outra rota inicial de infecção italiana estava relacionada a um “cluster de Cingapura”.

Mas por que isso é importante? No caso da pandemia, a análise da rede filogenética do vírus busca reconstruir os caminhos da infecção onde ainda não são conhecidos. Ao entender como o vírus se espalha, é possível adotar medidas para conter a transmissão da doença de uma região do país para outra, por exemplo. Além do mais, a rede permite conhecer os estágios iniciais da epidemia antes que sejam confundidos e apagados por mutações subsequentes. 

A relação entre os casos do Brasil e da Europa já havia sido detalhada em um estudo realizado por pesquisadores brasileiros do Instituto Adolf Lutz em parceria com o Instituto Tropical da Universidade de São Paulo (USP) publicado em março₂. Segundo os cientistas, os casos que surgiram no Brasil são muito mais ligados ao vírus que circulou na Europa do que aquele que apareceu na China. Após análise dos genomas do vírus dos dois primeiros casos identificados no país, verificou-se que o primeiro isolado se mostrou geneticamente mais parecido com o vírus sequenciado na Alemanha e o segundo genoma assemelhou-se mais ao sequenciado na Inglaterra.

Um segundo estudo realizado no Brasil₃ por pesquisadores do Laboratório de Bioinformática do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), demonstrou que quando o vírus se instalou no Brasil, ou seja, passou a ser transmitido localmente em larga escala, ele também sofreu novas mutações que permitem identificar o percurso dele dentro do país.

Sobre um grupo de dezenove infectados e hospitalizados nas regiões Sudeste (São Paulo e Rio de Janeiro), Sul (Rio Grande do Sul) e Centro-Oeste (Goiás), foram rastreadas as origens dos vírus. Dois indivíduos estavam com a linhagem asiática, dezessete com a européia sendo a maior quantidade com assinaturas do vírus que infectou a Itália. As pesquisas seguem no intuito de através das associações com as mutações nas linhagens dos vírus do SARS-CoV-2 que circulam pelo mundo, correlacionar situações locais com linhagens específicas circulantes e atrelar causa e efeito as mutações₄

₁ Forster, P., Forster, L., Renfrew, C., & Forster, M. (2020). Phylogenetic network analysis of SARS-CoV-2 genomes. Proceedings Of The National Academy Of Sciences, 202004999. doi: 10.1073/pnas.2004999117  https://www.pnas.org/content/early/2020/04/07/2004999117

₂ coronavirus, N., & Reports, G. (2020). First cases of coronavirus disease (COVID-19) in Brazil, South America (2 genomes, 3rd March 2020). Retrieved 15 April 2020, from http://virological.org/t/first-cases-of-coronavirus-disease-covid-19-in-brazil-south-america-2-genomes-3rd-march-2020/409

₃ da Silva Candido, D., Watts, A., Abade, L., Kraemer, M., Pybus, O., & Croda, J. et al. (2020). Routes for COVID-19 importation in Brazil. doi: 10.1101/2020.03.15.20036392

https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.03.15.20036392v1.full.pdf+html

₄ News Rondonia – Fique atualizado – News Rondonia. (2020). Retrieved 15 April 2020, from https://www.newsrondonia.com.br/imprimir.php?news=149094

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