EXEMPLOS DE ANÁLISE DA POSSIBILIDADE DE EXISTIREM MAIS ÓBITOS POR COVID-19 EM 2020

Autor: Miguel A. Buelta M.

Esta análise sobre a possibilidade de existirem mais óbitos por COVID-19 em 2020, do que até aqui notificados pelo Ministério da Saúde (N_{_COVID} ),  surgiu devido ao grande aumento de óbitos SRAG em relação aos anos anteriores, no qual uma parcela significativa não foi identificada como sendo causada por COVID-19.

O Ministério da Saúde fornece a planilha de óbitos por SRAG ao longo do ano de 2020 ⁽¹⁾, dia a dia, para os Estados e o Brasil como um todo (ver exemplo no anexo 1). Essa planilha apresenta duas colunas. A primeira que são os óbitos por SRAG (N__SARG2020  ) e a segunda que são os óbitos da primeira coluna que tiveram confirmação para COVID-19 (N__{COVID_SARG2020} ). Além disso apresenta na parte superior um valor extra, total, em que não foram identificados os dias das ocorrências, a ser acrescentado a essas colunas. Esses valores foram, neste estudo, acrescidos proporcionalmente ao longo dos dias. Essa tabela também foi, no passado, fornecida para cada ano, inclusive o ano de 2019, que só apresenta os óbitos por SRAG (N__SARG2019 ). 

O número de óbitos unicamente por SARG ( N__SARG ), a cada dia, onde não houve confirmação para COVID-19, é calculado a partir dessas planilhas, pela fórmula: 

N__SARG = N__SARG2020 – N__SARG2019 – N__{COVID SARG2020} 

Notar que são também retirados do N__SARG os óbitos por SARG de 2019, e que podem ter ocorrido devido a outras viroses. Desta forma, é grande a chance que o N__SARG esteja muito próximo ao número que deva ser acrescido aos óbitos notificados por COVID-19 ( N _COVID ) e que ( N__SARG + N_{_COVID} )  seja o número que deveria ter sido notificado.

Resultados

Nos gráficos que seguem os números de óbitos acumulados, para qualquer dos casos, correspondem à média móvel de sete dias, onde o dia considerado está no meio desses sete dias.  Temos:

-Curva azul: óbitos por COVID-19 notificados pelo Ministério da saúde ( N_{_COVID} ). 

– Curva laranja: óbitos por COVID-19 notificados ( N_{_COVID} ), acrescidos dos óbitos por SRAG que possivelmente também eram devidos à COVID1-19 ( N__SARG ) , e não estavam incluídos na curva azul. Esta curva está baseada nas informações sobre SRAG fornecidas pelo Ministério da Saúde, até 30/06/2020.

1. Agradecimento ao grupo Foco no COVID ( https://www.foconocovid.com/), que forneceu as tabelas de SRAG de 2020 e 2019, devidamente interpretadas, facilitando em muito esta análise.

Brasil

Período 19/03/2020 a 27/06/2020

Segundo as considerações desta análise, em 27/06, deveriam ter sido notificados para o Brasil 52 % a mais de óbitos por COVID-19, do que o número dado pelo Ministério da Saúde ( 86.746 contra os 57.070 notificados).

Estado de São Paulo

Período 19/03/2020 a 27/06/2020

Segundo as considerações desta análise, em 27/06, deveriam ter sido notificados para o Estado de São Paulo 77 % a mais de óbitos por COVID-19, do que o número dado pelo Ministério da Saúde ( 25.246 contra os 14.263 notificados).

Estado do Rio Grande do Sul

Período 03/04/2020 a 27/06/2020

Segundo as considerações desta análise, em 27/06, deveriam ter sido notificados para o Estado do Rio Grande do Sul 249 % a mais de óbitos por COVID-19, do que o número dado pelo Ministério da Saúde (  1.933 contra os 554 notificados).

Conclusão

Fica claro que, entre vários outros fatores, existe subnotificação de óbitos por COVID-19. Nesta análise foi mostrado um desses fatores, qual seja, os óbitos por SRAG que não foram atribuídos à COVID-19, e que são em muito maior número do que historicamente foi notificado no país. Existem estados em que essa subnotificação é maior ou menor, e facilmente calculada utilizando o procedimento aqui apresentado.

Anexo 1: Óbitos por SRAG em 2020 (Ministério da Saúde). Exemplo para o BRASIL

Elaborado por FOCO no COVID ( foconocovid.com )