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COVID-19 e Mucormicose (doença por “fungo negro”): devemos nos preocupar?

21.07.2021

Por: Mell

 

 

Autoras: Rute Maria Gonçalves-de-Andrade (@rutemga2) e Angel Miríade (@myriad_angel) Revisores: Lilith Schneider Bizarro e Leonardo Rovatti

 

Apesar de já ocorrer em seis países – Índia, Paquistão, Portugal, Qatar, Filipinas e Brasil [1], a mucormicose ganhou destaque nos noticiários em Maio, ocasião em que houve intensificação da pandemia da COVID-19 na Índia com maior transmissibilidade viral e, consequentemente, aumento no número de pessoas com manifestações graves, internações e óbitos.

Mas afinal, o que é a Mucormicose? 

A Mucormicose é uma micose, ou seja, uma infecção causada por espécies patogênicas de fungos agrupados na Ordem Mucorales, táxon que agrupa mais de 300 espécies, a maioria sapróbia (organismos cuja nutrição se dá por meio de absorção de substâncias resultantes da decomposição de matéria orgânica) [2].

Antes de discorrer mais detalhadamente sobre a Mucormicose vamos explanar o que é fungo. Os fungos são organismos heterotróficos (não produzem seu próprio alimento como as plantas) agrupados no Reino Fungi, que abriga grande diversidade de espécies (cerca de 100.000 descritas) e nichos. Importantes, ecologicamente, por serem decompositores, algumas espécies têm potencial econômico, como por exemplo as leveduras, que realizam o processo de fermentação para obter energia (usadas para produção de cerveja) e há os que são agentes etiológicos de doenças que acometem outros seres vivos (candidíase e pé de atleta, ou frieira, micoses conhecidas que acometem humanos e a vassoura de bruxa que adoece o cacau, entre outras).

Você pode não saber, mas já viu os fungos por aí, com certeza. Os mais conhecidos são os bolores, por exemplo o bolor do pão que o deixa azul e com textura aveludada; o mofo em paredes onde há excesso de umidade que deixa mancha escura no local, e os cogumelos comestíveis.

Após este breve panorama sobre os fungos, retornemos à Mucormicose. Os agentes  causadores desta micose, organismos da Ordem Mucorales, estão presentes no solo (onde são mais abundantes), em excrementos de herbívoros e em alimentos, incluindo grãos estocados [3]. Amplamente distribuídos no planeta, degradam, preferencialmente, açúcares menos complexos [4].

Segundo informações contidas em nota de esclarecimento do Departamento de Micoses da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), divulgada em 2 de junho, os Mucorales são conhecidos como fungos oportunistas pois, em condições normais de saúde de uma população, em geral, não têm potencial patogênico, ou seja, pessoas com a saúde equilibrada, caso entrem em contato com estes organismos, não desenvolverão a doença. Porém, o mesmo não acontece com as pessoas com a saúde debilitada, pois esta condição as torna suscetíveis às formas mais graves da Mucormicose [5].

De acordo com a SBD, é de extrema importância o tratamento imediato da doença logo após o diagnóstico, pois a rapidez entre este e o início do tratamento é que facultará salvar a vida do paciente, já que a doença evolui rapidamente e a mortalidade, dela decorrente, é de 40 a 50% entre os acometidos.

Como podemos desenvolver a Mucormicose?

As formas infectantes das principais espécies envolvidas na Mucormicose, agrupadas nos gêneros Rhizopus, Mucor, Lichtheimia e Rhizomucor, entre outros, estão presentes no ar, no solo, em matéria orgânica em decomposição e podem contaminar alimentos expostos. Importante ressaltar que estes fungos não são pretos, como divulgado pelos meios de comunicação, logo a atribuição à doença do “fungo negro” pode estar associada apenas à necrose do tecido infectado. Após a inalação do esporo (forma reprodutiva do fungo), inicia-se um processo inflamatório no nariz e ao redor dos olhos, o que pode causar dor facial e secreção nasal sanguinolenta. A progressão da doença é rápida, como já informado, afetando o cérebro, podendo resultar em óbito rapidamente. O uso de corticoides, que são os anti-inflamatórios que têm sido utilizados nos casos graves de COVID-19 para reduzir a inflamação intensa, pode ser um dos promotores das condições que contribuem para o desenvolvimento da micose por estes fungos [5], [6].

Uma outra forma de contágio é via contato do microrganismo com lacerações na pele. Entre as pessoas que apresentam maior risco para desenvolver a doença estão os portadores de diabetes tipo 1 (insulino-dependente) descompensada ou com cetoacidose (níveis altíssimos de glicose no sangue), usuários de corticoides de forma prolongada, pacientes com alguns tipos de câncer, com queimaduras graves, portadores de feridas abertas e transplantados de órgãos sólidos. O aumento do ferro sérico e a diminuição dos linfócitos (células de defesa do nosso organismo) que ocorrem em quem está com a COVID-19, também são fatores que predispõem a essa micose oportunista [5].

Sintomas da Mucormicose

Segundo a nota da SBD [5] caso o fungo afete os pulmões, os sintomas serão bastante semelhantes aos da COVID-19, a saber: febre, dor de cabeça, tosse e falta de ar, mas outros sintomas também podem estar presentes tais como: vômitos com sangue, visão borrada ou dupla, estado mental alterado, dor, vermelhidão e inchaço ao redor dos olhos e do nariz. Quando afeta o nariz e os olhos, forma mais frequente da Mucormicose, é denominada rino ocular; a pulmonar é a segunda manifestação mais frequente, quando a infecção se espalha pelo pulmão; a cutânea quando os fungos se proliferam na pele do paciente e a gastrointestinal, quando a doença atinge o trato digestivo do indivíduo.

A mucormicose não é contagiosa, e não pode ser transmitida de uma pessoa para outra. A moléstia foi identificada pela primeira vez em 1865, e desde então médicos e micólogos (pesquisadores que estudam fungos) acumularam uma ampla bagagem de conhecimento sobre sua etiologia, tratamento, que é feito por meio da aplicação intravenosa de medicamentos antifúngicos e, em casos graves — no qual o diagnóstico veio tardiamente — é necessária a remoção cirúrgica dos tecidos afetados, e prevenção.

Afinal, devemos nos preocupar?

No Brasil, outras doenças causadas por fungo como a aspergilose invasiva e a candidíase sistêmica, são mais comuns do que a mucormicose nos pacientes com COVID-19, logo, o necessário é estar atento às infecções ou infestações secundárias à COVID-19 que ocorrem devido à instabilidade do sistema imune dos pacientes e às distintas situações de internação dos pacientes, em condições às vezes improvisadas frente a urgência, que podem favorecer a disseminação de microrganismos oportunistas [5].

Em vista do acima exposto, para prevenir estas e outras doenças oportunistas durante a Pandemia da COVID-19, é necessário:

1. Que os gestores se disponham a engendrar ações que visem  orientar, de forma ampla, a população, aproveitando o trabalho dos agentes de saúde e de endemias que podem contribuir nesta ação,  de modo a reduzir a transmissão do novo coronavírus e, consequentemente, reduzir as situações que podem facultar a incidência de doenças que decorrem da situação frágil da saúde dos acometidos pela COVID-19. As orientações devem ser referentes a: usar máscara de forma adequada [ 7] referência texto da Mel} e ao mesmo tempo manter o distanciamento físico de no mínimo dois metros ao conversar; evitar ambientes fechados devido à alta taxa de transmissão por meio dos aerossóis [8]; higienizar as mãos sempre que tocar algo que não se tem a informação sobre o estado de higiene.

2. Que a higienização esteja na pauta do dia a dia de todas as pessoas para evitar qualquer tipo de contaminação por agentes infecciosos, sendo necessário, para isto, que as condições necessárias a tais ações sejam ofertadas para todas as pessoas e, neste caso, as políticas públicas de proteção às pessoas em situação de vulnerabilidade social e econômica devem fazer parte da gestão da Pandemia da COVID-19 em nível federal, estadual e municipal.

3. Que os gestores acelerem, tanto quanto possível, a vacinação de todas as pessoas com possibilidades atuais de receber os imunizantes, fazendo busca ativa dos que não compareceram para receber a primeira ou a segunda dose, de modo a reduzir ao máximo possível o número de não vacinados por hesitação ou por razões de impossibilidades de conseguir se deslocar ao local ou dificuldades de locomoção devido a alguma afecção. 

Referências

[1] Gaglioni C. O que é a mucormicose, doença agravada na Índia na pandemia, NEXO JORNAL. 31/05/2021. https://www.nexojornal.com.br/expresso/2021/05/31/O-que-%C3%A9-a-mucormicose-doen%C3%A7a-agravada-na-%C3%8Dndia-na-pandemia

[2] Ribes JA, Vanover-Sams CL, Baker D. Zygomycetes in Human Disease. Clinical Microbiology Reviews, 13(2): 236–301, 2000.

[3] Cavalcanti MAQ, Oliveira LG de, Fernandes MJ, Lima DM. Fungos filamentosos isolados do solo em municípios na região Xingó, Brasil.  Acta Botanica Brasilica 20 (4): 831-837, 2006.

[4] Richardson M. The ecology of the Zygomycetes and its impact on environmental exposure.  Clinical Microbiology and Infection, 15(1): 2-9, 2009.

[5] Sociedade Brasileira de Dermatologia. Nota de esclarecimento sobre os riscos relacionados à mucormicose. https://www.sbd.org.br/COVID19/sbd-esclarece-os-brasileiros-sobre-os-riscos-relacionados-a-mucormicose-doenca-oportunista-que-pode-afetar-pacientes-com-covid-19/

[6] Marques SA, Camargo RMP de, Abbade LPF, Marques MEA. Mucormicose: infecção oportunística grave em paciente imunossuprimido. Relato de caso. Diagnóstico & Tratamento, 15 92:64-68, 2010.

[7] Markoski M. Máscaras de pano e proteção contra a COVID-19 – quais as evidências após um ano de pandemia? https://redeaanalisecovid.wordpress.com/category/covid-19/ 

[8] Kokubun F. Propagação em espaços fechados. https://redeaanalisecovid.wordpress.com/2021/01/05/propagacao-em-espacos-fechados/ 

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