Autoras: Fernanda Atuatti (Facebook: Fe Atuatti)1 e Izabela Carvalho2 (Instagram: @izabela.carvalho)
1 Graduanda em Psicologia na UNISINOS 2 Jornalista (UFG)
Revisão: Marcelo Bragatte (@marcelobragatte) e Fernando Kokubun (@fernando.kokubun)
Estudos realizados em pacientes com coronavírus apontam para a possibilidade da COVID-19 ser responsável por danos neurológicos nos pacientes, principalmente aqueles com agravos nos sintomas. Busca-se a explicação para a agressividade da doença e o fato de ser tão mortal. (1)
Foi observado que pacientes de UTI (89%), não conseguiam respirar espontaneamente, além de apresentarem sinais de distúrbios neurológicos. Metade dos doentes piorou em pouco tempo ou morreu de insuficiência respiratória. (1)
O processo tem início quando o vírus chega ao sistema nervoso central, através do nervo olfativo e por meio da circulação sanguínea e alcança as vias neuronais do Sistema Nervoso Central. Essa infecção no nervo olfativo tem como sintomas a perda dos sentidos olfativos e/ou paladar, que podem ser passageiros, por um período médio de 14 dias ou permanentes em caso de danos ao nervo e/ou ao cérebro. (2) (1)
O SARS-Cov-2 contamina e atinge as células ao se ligar ao receptor da enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2) que está presente em vários órgãos do corpo, pulmão, coração, rins, intestino e cérebro. Esta enzima é responsável pela proteção vascular cardio-cerebral, que exerce grande papel na regulação da pressão arterial, podendo causar elevação da mesma e aumentar o risco de hemorragia cerebral. A invasão pode ocorrer quando o vírus liga-se à ACE2, presente no endotélio capilar (célula que reveste o interior dos vasos sanguíneos), pode ainda, danificar a barreira hematoencefálica, esta que possui a função protetora perante substâncias tóxicas ao encéfalo e, entrar no Sistema Nervoso Central, lesionando o sistema vascular e causando inflamação. (2)
Ao corroborar com a hipótese da neuro invasão, uma pesquisa de Baig, do ACS Chem Neurosci, aponta que o neurônio é invadido pelo SARS-CoV-2, em que age de forma semelhante ao SARS-CoV-1, ao explorar o receptor da enzima de conversão da Angiotensina 2 (ACE2). A proteína de superfície (SPIKE) é maior na SARS-CoV-2 que na SARS-CoV-1, além disso a região de ligação ao receptor entre os vírus é diferente, o que tem se mostrado um fator de influência na dispersão dos vírus. (3) Os estudiosos relatam também, que dentre os sintomas apresentados pelos pacientes estão dores de cabeça, epilepsia, alteração de consciência, vômito, perda visual e convulsões. O coronavírus junto com comorbidades do paciente como: cardiopatias, hipertensão, diabetes, além da obesidade e do tabagismo, que pode agravar ainda mais o quadro clínico dos pacientes já em estado grave, e evoluir
para quadro de Acidente Vascular Cerebral Isquêmico, ou ainda para a ocorrência de infarto. (5)
O AVE (chamado também de AVC) pode ser Isquêmico ou Hemorrágico, sendo a lesão isquêmica a mais frequente, e ocorre quando os vasos sanguíneos dentro do encéfalo são bloqueados ou quando a pressão arterial está baixa e não há circulação de sangue suficiente para o encéfalo. (7)
No AVE Isquêmico, em função de o encéfalo demandar muita energia (substratos) e oxigênio, ocorre a diminuição do fluxo de sangue para essa parte do sistema nervoso central, e o tecido entra em crise energética; tem início uma inflamação no local, a qual ocasiona a morte de muitos neurônios (células nervosas). (7)
Já o Acidente Vascular Encefálico Hemorrágico é menos frequente, mas sua incidência de óbitos é maior. Ele ocorre quando há o rompimento de uma artéria no encéfalo e o sangue extravasa pelas estruturas encefálicas. (7) (8)
As sequelas do AVE, dependem de onde a lesão está localizada, e podem ocorrer lesões incapacitantes, como alterações do campo espacial, visual, fala, sensibilidade, marcha e dificuldades de execução das atividades de vida diária do sujeito. (8)(6)
As principais comorbidades atreladas ao AVE são: a hipertensão (principal fator de risco), diabetes, tabagismo, fibrilação arterial, doenças cardíacas, hiperlipidemias e sedentarismo. (7)
A seguir são relatados casos de pacientes com comorbidades, resultado positivo para coronavírus, e que apresentaram seu quadro clínico agravado pela doença.(4)
A partir de observações realizadas no Hospital da Faculdade de Medicina de Peking Union, da cidade de Tongji Hospital em Wuhan, o levantamento descreve o caso de um paciente, que apresentava problemas de distúrbios de coagulação sanguínea e infartos múltiplos. O homem com histórico de diabetes, hipertensão e acidente vascular cerebral, dentre os sintomas do coronavírus apresentava dor de cabeça, febre, tosse, dispneia e diarreia. Com o agravamento do estado clínico, passou a manifestar baixa oxigenação sanguínea, que evoluiu para insuficiência respiratória com necessidade de ventilação mecânica.(4)
Ao ser avaliado, o homem de 69 anos apresentou isquemia em ambos os membros inferiores e na mão esquerda. Ao ser submetido à tomografia
computadorizada, a imagem demonstrou infartos cerebrais bilaterais em vários territórios vasculares. Mais dois outros pacientes, com resultados semelhantes foram atendidos na UTI do mesmo hospital. (4)
A fim de consolidar os resultados apresentados, ainda serão necessários maiores estudos e observações acerca de como ocorre o processo de adoecimento no sistema nervoso central, ao ser afetado pela COVID-19, bem como as suas consequências.
1. https://www.psychologytoday.com/us/blog/the-new-brain/202004/neurological-
implications-covid-19-raise-concerns acesso em 18/04/20
2. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0889159120303573
acesso em 18/04/20 Yeshun Wu et al. Nervous system involvement after infection with COVID-19 and other coronaviruses, Brain, Behavior, and Immunity, 2020.
3. https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(20)30251-8/f
ulltext Lu, R., Zhao, X., Li, J., Niu, P., Yang, B., & Wu, H. et al. (2020). Genomic characterisation and epidemiology of 2019 novel coronavirus: implications for virus origins and receptor binding. The Lancet, 395(10224), 565-574. doi: 10.1016/s0140-6736(20)30251-8
4. https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMc2007575?query=featured_coron
avirus acesso em 19/04/2020
Zhang, Yan and Xiao et al. Coagulopathy and Antiphospholipid Antibodies in Patients with Covid-19,The New England Journal of Medicine,2020.
5. http://www.revistaccuba.sld.cu/index.php/revacc/article/view/760 – acesso em
18/04/2020
LEÓN CASTELLÓN, Roberto; BENDER DEL BUSTO, Juan Enrique; VELÁZQUEZ PÉREZ, Luis C.. Afectación del sistema nervioso por la COVID-19. Anales de la Academia de Ciencias de Cuba, [S.l.], v. 10, n. 2, abr. 2020.
6. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-047120140
00200015&lng=pt&nrm=iso – acesso em 21/04/2020 REIS-YAMAUTI, Verônica Lima dos et al. Testes de avaliação neuropsicológica utilizados em pacientes vítimas de Acidente Vascular Cerebral. Aval. psicol.,Itatiba,v.13 n. 2,p.277-285,ago.2014.
7. http://departamentos.cardiol.br/dha/revista/7-4/012.pdf acesso em 22/04/2020
CHAVES, Marcia L.F, Acidente Vascular Encefálico: conceituação e fatores de risco. Revista Brasileira Hipertens,vol 7,p.372-382,outubro/dezembro,2000.
8. http://departamentos.cardiol.br/dha/revista/8-3/acidente.pdf
OLIVEIRA, Roberto de M. Carneiro; ANDRADE, Luis A. de Franco, Acidente Vascular Cerebral. Revista Brasileira Hipertens vol 8, Julho/setembro,2000.
Referências das imagens:
https://www.fatoamazonico.com/autopsias-em-sp-encontram-coronavirus-no-cerebro-danos- sao-estudados/
https://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2008/03/acidente-vascular-cerebral-384907 717.jpg
https://pixabay.com/es/illustrations/corona-coronavirus-digitalizaci%C3%B3n-5073359/